O movimento dos bombeiros do Rio de Janeiro completa hoje 49 dias, é um movimento que tem uma transcendência enorme, mudou a situação política do Rio de Janeiro e está influenciando diversas categorias e corporações no Brasil inteiro. O movimento começou reivindicando reajuste salarial e vale transporte, os bombeiros do Rio recebem R$ 1.031,38 brutos. Durante todo o movimento eles se manifestaram no centro da cidade com marchas, hinos e a ocupação da escadaria da ALERJ tentando assim abrir uma via de negociação. O Governo Cabral nunca quis ouvi-los e quando os bombeiros persistiram colocou como condição para o diálogo o fim do movimento retaliando lideranças e transferindo para o interior muitos manifestantes. Com o endurecimento do governo e o fracasso da via de diálogo com a Assembléia Legislativa os militares se radicalizaram e ocuparam o Quartel General, foi uma ação impressionante, a autoridade adquirida no movimento por alguns militares sobre os demais companheiros da tropa é muito grande. No ato da ocupação do Quartel General, a tropa de choque da PM se recusou a reprimir os colegas, todos eles estão presos. Depois de ocupado o quartel, policiais do BOPE tiveram que ser escolhidos a dedo para invadir. A invasão foi bárbara, o BOPE fez disparos de fuzil, teve enfrentamento com os policiais e diversos feridos, a esposa de um bombeiro abortou. No momento da invasão já era manhã e existia uma deputada no interior do quartel, era a companheira Janira Rocha que é hoje a parlamentar mais credenciada junto ao movimento.
O papel dos companheiros Marcelo Freixo e Janira Rocha é extraordinário, com destaque para Janira que com sua experiência na área sindical é hoje parte do movimento, com autoridade e reconhecimento dos bombeiros, podemos dizer que hoje a companheira é "parte da tropa", a bancada do PSOL é o segundo elemento qualitativo deste processo ficando atrás somente do próprio movimento. Janira foi recebida no quartel onde estão presos os bombeiros aos gritos de "Musa dos Bombeiros". O PSOL como partido está intervindo bem, com panfletos, adesivos e todo apoio possível, muitos militantes e dirigentes passam o dia acampados na ALERJ.
A greve dos bombeiros representa uma virada na conjuntura política do estado e pode apontar para a possibilidade de uma nova dinâmica da luta de classes no Brasil. Ontem os professores numa assembléia representativa deliberaram por greve e na sexta farão uma passeata junto aos bombeiros, outros sindicatos do estado também estão decretando greve, ou seja, os bombeiros foram vanguarda e por sua determinação deram exemplo para milhares de outros trabalhadores. A situação do governo é muito complicada, Cabral que já havia dito e feito coisas piores, desta vez foi brutal com os bombeiros, instituição que em diversas pesquisas aparece como a mais respeitada do Brasil, no imaginário do povo Cabral tratou heróis como bandidos. O desgaste é enorme e só uma tragédia alteraria a defensiva do governo. No domingo haverá uma passeata por Copacabana, essa passeata é muito importante pois pode contar com apoio de personalidades, artistas e da população como um todo, que é massivamente a favor do movimento e manifesta isso com buzinaços, faixas vermelhas na roupa e nos carros, caso o governo não liberte e anistie os 439 bombeiros será o terceiro grande erro de Cabral, o movimento tende a crescer mais ainda e pode contar com a adesão de outras categorias, tivesse a PM boas lideranças já estaria em greve pois a tropa é toda a favor do movimento dos bombeiros.
As lideranças - todas elas sem nenhuma experiência sindical - que estão sendo formadas neste processo são impressionantes, são grandes agitadores com um senso democrático que dão verdadeiro sentido a expressão "democracia operária", sem medo de parecer meio ridículo exagero dizendo que os bombeiros são ao mesmo tempo caóticos, democráticos e "meio soviéticos".
A greve dos bombeiros é muito mais importante do que as outras greves que ocorreram nos últimos anos, primeiro porque debilita o governo do Rio de Janeiro, cria uma crise na superestrutura política no estado da copa e das olimpíadas, estado que em pouco tempo pode ser o mais importante do país; segundo porque o exemplo dos bombeiros pode ser a centelha para a organização de outros militares e categorias no Brasil inteiro e terceiro porque o PSOL se aproxima de um segmento estratégico na luta de classes.
Rio de Janeiro, 08 de junho de 2011
Honório Oliveira – Membro da executiva estadual do PSOL/RJ e da Direção Nacional
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