Os episódios ocorridos no Rio de Janeiro são uma virada de página para além da conjuntura, sem nenhuma dúvida a luta dos soldados, praças e oficiais do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio De Janeiro entraram para a história brasileira.
O mais antigo corpo de bombeiros do país, fundado pelo Imperador D.Pedro II em 1856, e que tem o pior salário do Brasil incendiou os corações e mentes da população Carioca e Fluminense.
O que começou como uma luta por salário e condições de trabalho evoluiu rapidamente para um enfrentamento direto com o governo Sérgio Cabral, que mostrou pela primeira vez sua verdadeira face à população.
Os bombeiros do Estado que sediará os Jogos Militares, jogos da copa do mundo e as Olimpíadas em 2016 ganham cerca de R$ 950,00 líquidos, tem péssimas condições de trabalho e sofrem uma opressão permanente nos quartéis.
Os companheiros vinham reivindicando ao seu comandante R$ 2.000,00 de piso, vale transporte, filtro solar e nadadeiras para o Grupamento Marítimo vanguarda do movimento realizar seu trabalho. Estas reivindicações começaram a ganhar as ruas em abril em ações de protesto no entorno dos quartéis e paralisações que resultaram em um acampamento em Maio nas escadarias da Assembléia Legislativa – ALERJ.
O PSOL esteve desde o primeiro momento presente em solidariedade a luta dos bombeiros. A companheira Janira Rocha nossa Dep. Estadual buscou um Canal de negociação com o Governo e junto com Marcelo Freixo a partir da presidência da Comissão de Direitos Humanos atuaram de maneira exemplar. Estabelecemos uma linha direta com o comando do movimento e buscamos fortalecer a luta dos companheiros. Nosso partido atuou em equipe e passamos por esta prova de fogo. Do rancho do acampamento, passando pela organização dos atos e mobilizações, no dia da ocupação do quartel central até a libertação dos bombeiros o PSOL se fez presente.
Na sexta feira dia 03 de junho, o dia em que os bombeiros em luta ao lado de suas esposa e filhos ocuparam seu quartel foi virada uma página na história das lutas e mobilizações em nosso Estado. A combinação de soldados proletários e em grande parte cristãos mostrava no mundo real a determinação e a convicção dos que estão com a verdade ao seu lado.
Na madrugada de sábado, sem nenhum aviso ou negociação fomos surpreendidos pela covardia do Governador Cabral, que ordenou a invasão do Quartel pelo BOPE – Batalhão de Operações Especiais. O BOPE entrou pelos fundos do Quartel e lançou bombas de gás e ao fim, fez disparos de fuzil como denunciado por Janira que manteve-se dentro do quartel para evitar um massacre. Soubemos que mesmo no BOPE foram escolhidos a dedo os que participariam da "operação, pois na porta da frente o Batalhão de Choque havia baixado seus escudos e se recusado a entrar.
Ainda na manhã de sábado após a prisão coletiva de centenas de cidadãos como nos tempos da ditadura o Governador vai a TV atacar os bombeiros.
Sérgio Cabral que detém uma imensa estrutura de marketing e propaganda realizou uma coletiva e transtornado mostrou a população do Rio, pela primeira vez a sua verdadeira face. Aos gritos, com a soberba dos que se julgam déspotas acima de tudo e de todos, chamou a corporação mais querida do Estado de vândalos, disse que o RJ não tem o pior salário do Brasil e que as condições de trabalho são ótimas.
Ficaram detidos 439 companheiros, nesta altura o PSOL e a maioria da população já éramos todos bombeiros. No Domingo bombeiros e populares em solidariedade tomam as escadarias da ALERJ no primeiro ato pela libertação dos 438 soldados, cabos e oficiais e da companheira Tenente, nossos 439 heróis.
O PSOL lançou a campanha "Herói não é bandido, liberdade para os bombeiros", fomos para as ruas com panfletos e adesivos, participamos e realizamos atos, fizemos plenárias, articulamos entidades sindicais e nossos parlamentares Chico, Jean Wyllys, Eliomar e Renatinho.
Em todo o Estado aconteceram mobilizações, nos quartéis dos bombeiros se distribuíam fitas vermelhas, durante a semana em Cabo Frio PM's fizeram uma passeata em solidariedade e na ALERJ o movimento só fazia crescer. Na última sexta feira policiais do Batalhão de Choque se apresentaram de camisa vermelha no quartel, a onda vermelha havia tomado conta do Rio de Janeiro.
Em Niterói onde estavam a maioria dos presos, Janira era recebida com a música: "poiera, poeira, Janira é guerreira". Freixo esteve presente e atuou como presidente da Comissão de Direitos Humanos virando neste setor a idéia difundida pelos comandos, que direitos humanos só servem para "bandidos". Nos atos e na direção desta luta nossa dupla: Janira e Freixo deram um belo exemplo.
A força do movimento foi muito grande e deslocou setores, além de nossas bancadas estiveram na defesa dos bombeiros desde o inicio os parlamentares Lindberg, Clarissa Garotinho, Flávio Bolsonaro e Wagner Montes, que vale destacar pois além de deputado estadual é apresentador de um programa de grande audiência na Record. Wagner sempre vota com o PSOL e nesta batalha abriu seu programa ao movimento o que teve muita importância para romper o bloqueio de mídia, merece nosso reconhecimento.
No fim da semana estava claro que o governo havia perdido esta batalha, o todo poderoso Cabral teve que se render aos fatos. Foi marcado para sexta uma reunião com o presidente do Tribunal de Justiça, mas antes que acontecesse um Habeas Corpus impetrado em Brasília garantiu a libertação dos presos.
No sábado um momento dos mais emocionantes que presenciei na vida, a saída dos presos e a travessia de barca para de Niterói para o Rio. Foi a travessia da liberdade e o lançamento da campanha pela anistia dos 439 heróis.
Domingo uma passeata que reuniu milhares em Copacabana, como não se via desde o "Fora Collor" deu vazão a onda vermelha que havia inundado as casas e prédios com panos nas janelas, os carros com fitinhas vermelhas e as pessoas nas ruas. O Rio vermelho venceu!
O PSOL seguirá ombro a ombro ao lado dos bombeiros e como no belo hino da corporação cantado tantas vezes nestes dias de luta: "nem um passo daremos atrás".
Jefferson Moura é presidente do PSol-RJ
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