terça-feira, 22 de outubro de 2013

Congresso do PSOL Bahia: um balanço revelador da política hegemonista, fracional e doentia da APS Nova Era

Foi realizado em Salvador, nos dias 19 e 20 de outubro, o congresso do PSOL Bahia. Nosso coletivo interno, "Somos PSOL", que constrói junto com outras correntes e militantes o bloco/tese nacional "Unidade Socialista Por Um PSOL Popular", tem responsabilidades políticas bastante relevantes com o partido neste estado, razão pela qual sentimo-nos na obrigação de realizar este balanço e socializa-lo com os demais membros do partido.

A primeira constatação visível a todos os participantes deste evento é que o PSOL na Bahia sofre um processo grave de fratura, que se revelou na precária organização do congresso. Três grandes grupos internos, praticamente empatados em número de delegados, organizaram-se no pré-congresso e marcaram um dia para se encontrar, alguns com o objetivo de debater, mas outros com o intento de agredir de todas as formas possíveis os que pensam diferente, tamanho o nível de fracionamento, que foi responsável inclusive pelo fato mais lamentável de todo o 4º Congresso do PSOL: a violenta agressão física ao dirigente Ronaldo Santos, membro do nosso coletivo, em uma das plenárias de Salvador.

Mesmo neste clima desfavorável para a realização de um evento que se dispusesse a realizar algumas sínteses, foi percebível o esforço de algumas forças e lideranças partidárias para se alcançar algum nível de unidade. É preciso afirmar que nós, do Somos PSOL, integrantes do bloco nacional Unidade Socialista, estivemos por todo o congresso abertos ao diálogo para fortalecer o partido. Reconhecemos também os esforços dos companheiros da corrente Insurgência e também dos companheiros do Rosa Zumbi nestes esforços. Mas, lamentavelmente, quando uma força minoritária, mas que dinamiza 1/3 dos delegados - a APS Nova Era -, se dispõe com todas as suas forças a despolitizar um congresso, não há como se ter um balanço plenamente positivo deste fórum, que reuniu quase 270 delegados.  

Em mais de um momento tentamos trazer ao plenário do Congresso o debate mais substantivo que gera divergências internas e que devem sim ser claramente debatidas. Trouxemos o debate sobre os critérios para alianças eleitorais; trouxemos o debate sobre o balanço das eleições no Pará e Macapá, mas também em outros estados, como o Rio de Janeiro e Rio Grand do Sul; trouxemos o debate sobre o balanço da gestão do partido na prefeitura de Macapá. Tentamos ainda debater aspectos programáticos, ao menos os eixos que defendemos para o partido: outra política econômica enfrentando a questão da dívida pública; radicalização na pauta dos direitos humanos; refundação republicana do país através de uma revolução democrática com efetiva participação popular como forma inclusive de tirar o debate da corrupção do ambiente meramente moral; desembarque do modelo de mero crescimento econômico para outro, sustentável nas dimensões econômica, social e ambiental.

Em todos os momentos em que colocamos estes temas, a claque despolitizada da APS Nova Era, acompanhada de alguns poucos aliados não menos despolitizados e submissos à histeria como método, não permitia a reflexão e o debate claro de posições. Os divergentes eram tratados aos gritos como safados, pilantras e outros adjetivos do mesmo cômodo de deseducação doméstica. O objetivo estava claro e a disposição para a agressão física se fez saliente em mais de um momento. Não tinham condições de debater sobre fatos, mas tão somente sobre versões, que seriam facilmente desmascaradas num debate organizado.

Como a APS Nova Era iria sustentar que a prefeitura de Macapá não é a experiência político-administrativa mais avançada entre as capitais do país hoje, se em nove meses de gestão já reuniu mais de 15 mil moradores e realizou o 1º Congresso do Povo de Macapá, elegendo 700 delegados que prepararam o Plano Plurianual da cidade e entregaram à Câmara, rompendo com a lógica fisiológica predominante na velha política? Como sustentar as críticas à gestão cujo prefeito vai pessoalmente às assembleias das categorias debater e decidir coletivamente suas pautas e reivindicações? Como seguir um debate criticando uma gestão que antes das jornadas de junho já tinha se enfrentado com os empresários do transporte, congelado a tarifa e em seguida reduzindo-as? Como vir para o debate se a prefeitura de Macapá está já colocando em discussão a municipalização do transporte coletivo da cidade e um chamado a um plebiscito para definir sobre isto e sobre o passe livre para os estudantes da cidade? Como, se a prefeitura está avançando em convênios com Cuba para fazer intercâmbio em áreas cuja excelência da experiência cubana é reconhecida internacionalmente?

A APS Nova Era interditou o debate, preferiu as claques, as agressões morais, a gritaria insana e a ofensa às delegações do interior, afirmando abertamente que eram meros levantadores de crachás, numa postura tão arrogante quanto hipócrita, vide os casos que estão sendo analisados na Executiva Nacional sobre as manobras da APS Nova Era exatamente no interior da Bahia. A gritaria objetivava que os delegados não refletissem sobre as nossas falas e sobre o debate franco que trazíamos, pois as suas versões estalinistas viriam abaixo. Certamente também por isso interditaram um membro da Executiva Nacional do partido de ter direito a voz no congresso. O argumento politizado da APS Nova Era: "ele não é da Bahia!". Tudo isto foi feito não por militantes de base, gente que pode ser vista como imatura, adolescentes crônicos da política ou algo pelo estilo. Em todos os momentos o sr. Jorge Almeida estava ali incentivando e coordenando a despolitização.

Mas o maior exemplo da falta de compromisso desta corrente com a unidade partidária e com o próprio fortalecimento do que se convencionou chamar de "bloco de esquerda" foi quando TODAS as forças fecharam um acordo para apresentar uma chapa para as eleições 2014 de consenso, para colocar o partido "pra fora". Após o acordo feito, na hora da votação, em que esperávamos que seria uma votação unânime, a APS Nova Era não votou, não dando seu apoio ao candidato unificador, da corrente Insurgência. Porém, oportunistamente, a APS Nova Era não deixou de apresentar seu nome para o senado, a filiada Zilmar.

Vale salientar que todas as manobras possíveis foram feitas para atrasar os trabalhos da plenária de domingo. Tínhamos um acordo para iniciar os trabalhos às 11h30, impreterivelmente. A plenária só veio a começar próximo das 14 horas após uma luta política imensa contra as manobras da APS Nova Era, que sabia que a partir das 16 horas várias delegações teriam que se ausentar. Felizmente, com a condução isenta e firme de um companheiro da corrente Rosa Zumbi, conseguimos concluir as votações que exigiam aferição proporcional perto das 17 horas, já com muitos delegados em pé e com suas malas prontas. Após isto, o congresso praticamente se dissolveu, pois estourou completamente o tempo.

O congresso da Bahia também serviu para se esclarecer a todos os delegados e delegadas sobre a forma como a APS Nova Era conduz uma ferramenta de luta coletiva que foi fruto não do esforço de uma corrente, mas de todo o partido, de todas as correntes: o mandato de vereador na capital, de Hilton Coelho. O mandato foi duramente questionado pelas correntes, pela falta de transparência, pela falta de diálogo e até pela falta de prestação de contas. Chegou a impressionar quando o próprio vereador – que exerce um mandato de luta na cidade, não é disto que tratamos aqui - foi ao microfone se defender e afirmou que quem quisesse suas prestações de contas que fosse ao site da Câmara, ou seja, tratando o partido como um ser estranho ao seu mandato. A sensação do conjunto do partido, expressa no congresso, é que o mandato não é "do PSOL", mas de uma corrente que quer hegemonizar tudo e instrumentaliza este mandato – inclusive com liberações pelo interior do estado - para disputar espaços dentro do partido com aqueles que ajudaram a eleger o vereador. Esta situação prática explica bem a verdade sobre a falta de unidade do chamado bloco de esquerda nos congressos estaduais. A prática é o critério da verdade.

Apesar deste quadro, entendemos que o congresso cumpriu seu papel. Diante de tanta fratura política e tamanha política de autoconstrução de um setor partidário, a base e muitos quadros deram uma demonstração de que o PSOL é um partido saudavelmente e dialeticamente rebelde e equilibrado, colocando estas forças hegemonistas em seu devido lugar.  Cada grupo terá aproximadamente 1/3 da direção estadual, que será presidida pelo Marcos Mendes, da corrente Insurgência. O surgimento da corrente Rosa Zumbi é certamente um fator positivo na Bahia, ajuda a dar leveza ao partido, desinterdita caminhos e abre horizontes para novos diálogos. De nossa parte, do SOMOS PSOL, vamos continuar abertos à construção unitária do partido, sem sectarismos, hegemonismos, agressões físicas ou morais. Viva o PSOL e sua diversidade socialista!

Coletivo SOMOS PSOL.

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